segunda-feira, 9 de julho de 2007

Castro Alves


"Eu tenho em mim o borbulhar do gênio". Esta frase dita por um desconhecido, ou mesmo por uma celebridade da vez, poderia soar como presunçosa, arrogante, medíocre até... Mas deixa de ser, quando se sabe que quem a falava com voz sonora e altiva nas tribunas de salões e nos balcões de teatros era Antônio Frederico de Castro Alves.

É certo que a vaidade, tanto intelectual (não aceitava facilmente contestações a seus poemas), quanto estética (cuidadoso na vestimenta e no penteado), era uma de suas características, mas era uma vaidade sem enaltecimentos vãos. Fazia parte de sua performance de poeta romântico.

Tinha certeza de que sua vocação não era para o Direito, mas para a Poesia, e nesta seara, ao lidar com letras menos duras, mas nem por isso destituídas de verdade, afirmaria sua genialidade como pensador de seu tempo.

Reencontrei-me com Castro Alves nesta semana. E penso que sempre temos sua poesia presente, porque seus versos ecoam ainda em nosso imaginário como "espumas flutuantes" que nunca se dissipam dos mares.

Esta revisitação aconteceu pelas mãos de Alberto da Costa e Silva, autor de "Castro Alves: um poeta sempre jovem" (Companhia das Letras, 2007, 198 páginas), que faz um perfil do criador de "O navio negreiro" com variedade de informações sobre a sociedade escravocrata do período e como Castro Alves transitou num ambiente hostil aos negros, do qual nem ele mesmo pôde de todo se desvencilhar, já que, a sua convivência com africanos ou afro-brasileiros escravizados na intimidade do lar, era antagônica politicamente à sua campanha e verve abolicionistas.

Em 24 capítulos (não por acaso a idade com a qual o poeta morreu), Costa e Silva nos mostra as intimidades e a personalidade deste baiano de Curralinho (atual Castro Alves), sem cair no pieguismo com que muitos críticos literários e biógrafos já fizeram.

O autor, especialista em escravidão no Brasil, dá ao texto um tom quase ensaístico, sem esquecer de uma linguagem mais narrativa para descrever as aventuras e desventuras de Cecéu em Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente entre os nove anos e cinco meses (1862-1871) em que construiu uma vida literária de reconhecimento popular, num período de público-leitor reduzido, mas ouvinte atento às declamações de poetas em eventos abertos como os que Castro Alves participou.

Algumas curiosidades são reveladas, como a da madrasta de Castro Alves, viúva de um traficante de escravos da Bahia, o português Lopes Guimarães, que ao morrer deixou para ela e os três filhos uma herança que garantiria o mesmo status social e financeiro, inclusive a continuidade por algum tempo dos negócios negreiros do falecido. O palacete da rua Sodré, onde Castro Alves morreu, fazia parte do inventário. Lá, o pai do poeta foi morar com os filhos. A Viúva Lopes, quando o patriarca Alves morreu, teve de assumir as despesas de Castro Alves no curso de Direito em Recife. Ironicamente, o dinheiro que ela ganhara com o tráfico, bancou o poeta abolicionista em suas tertúlias. E o tiro no pé, hein? Acidente ou tentativa de suicídio? Ele havia terminado o namoro, quase casamento, com a atriz lisboeta Eugênia Câmara, para quem escreveu a peça "Gonzaga" e vários poemas líricos, inspirados ora em alegrias, ora em tristezas pelas quais passava o casal. Falou-se muito que Castro Alves amava mais Eugênia, do que o contrário. E que parte das brigas devia-se mais aos ciúmes de Castro Alves, que não gostava de ver Eugênia assediada (e correspondendo ao cortejo) por homens mais maduros e experientes que ele.

Outra versão era que, mesmo apaixonado por ela, sua vaidade era maior, pois não admitia que a mulher tivesse mais aplausos que ele ou que ela não lhe desse sempre louros. Culta, livre e independente (dez anos mais velha), Eugênia batia de frente contra esse egoísmo de Castro Alves. O rompimento era certo. E até a morte, nunca esquecera um só minuto dela.

Com o tiro, ocorrido numa caçada no Brás, redondezas do centro de São Paulo, Castro Alves, que já amargava a dor do coração dilacerado com a separação, teve de suportar a dor física causada tanto pelo ferimento no pé, quanto dos pulmões enfranquecidos pela tuberculose que o acompanhava desde adolescente.

Pé amputado, tuberculose incurável, Castro Alves retornou para Salvador, mas não perdeu o espírito poético e produziu até o fim. É claro que perdeu a vivacidade dos tempos de convivência política e literária em Recife e em São Paulo, mas sua força de vontade resultou na edição de "Espumas flutuantes", quase um ano antes de morrer.

O poeta, que já tinha revelado "O navio negreiro" em 7 de setembro de 1868, preferiu por fechar o ciclo de sua borbulhante genialidade com um livro, cujos poemas, embora carregados de sentimentos mais românticos e amorosos, não descuidavam de tratar de uma questão cara à sua trajetória como homem de poesia contra o Brasil escravista de então: a liberdade.

Adelaide, sua irmã, narra os últimos momentos de Cecéu: "Na véspera de morrer (...), à noite, perguntando as horas e se lhe respondendo: 'É meia noite', suspirou dizendo: 'Será possível, meu Deus, ainda um dia de dor?' (...) Numa das ocasiões (...), angustiada, lhe passava o lenço pela fornte umedecida, ele com voz extinta quase, mas repassada de meiguice, murmurou-lhe: 'Guarda este lenço... com ele enxugaste o suor de minha agonia. (...) Foi sem grandes ânsias nem estertores. Imóvel já, o olhar fito nessa nesga de céu que se descortinava da janela aberta em frente ao leito em que jazia - pouco a pouco a luz desse olhar foi amortecendo, até de todo difundir-se nas sombras da Eternidade... Eram três e meia horas (...) da tarde".

Foi enterrado no dia seguinte, 7 de julho de 1871, no Campo Santo. Três anos depois, seus restos mortais foram recolhidos ao mausoléu do ex-marido de sua madrasta, o traficante de escravos. Mais uma ironia do destino, desta vez menos indireta. Só quase cem anos depois, em 6 de julho de 1971, foram trasladados para o monumento da praça, batizada com seu nome, onde sua imagem com o braço estendido e em perfomance declamatória parece estar sempre bradando, para os quatro cantos da Cidade da Bahia, versos como "a praça é do povo/ como o céu é do condor".
Foto: Marielson Carvalho

Um comentário:

quilombonnq disse...

REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA!
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro- Ações Afirmativas Afro –Ameríndia *Quilombismo *
A comunidade negra afros-decendentes brasileira
é solidaria e apóia o povo palestino Viva a Palestina!
Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio 2008 dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
quilombonnq@bol.com.br