sábado, 20 de junho de 2009

Entre Dakar e Maputo, mas para além da África

A África por ela mesma, sem limites e fronteiras coloniais


O Curso Avançado em Estudos Africanos do CEPAIA (Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos), órgão da UNEB, tem sido um proveitoso momento de formação intelectual e acadêmica para professores de Ciências Humanas, Letras e Artes que lecionam e pesquisam temas relacionados à cultura, história e literatura africanas e afro-brasileiras.

Em três encontros realizados até agora, a participação dos professores envolvidos, cerca de 45 de diversos campi da Universidade, alcançou níveis altíssimos de debate com os palestrantes convidados, como foi com o Prof. Acácio Almeida (PUC-SP), na aula de abertura, sobre "África e Contemporaneidade", em seguida com o professor senegalês Boubacar Barry (Universidade Cheikh Anta Diop, Senegal), sobre "Teorias e Métodos de Pesquisa em História da África", e por último, com o professor moçambicano Severino Ngoenha (Universidade de Lausanne, Suíça), sobre "Pensamento, Filosofia e Antropologia Africanos".

A experiência que tive a partir do contato com os dois professores africanos só confirmou o que, desde o período do mestrado e como bolsista em 2003 do VI Curso Avançado sobre Relações Étnicas, Raciais e Cultura Negra da Fábrica de Idéias, CEAO-UFBA, eu pretendia fazer como pesquisador: regressar à África, não a uma África mítica e distante, embora ela faça parte de minha ancestralidade, mas a uma África das africanidades diaspóricas nas Américas, especialmente no Brasil.

Ao ouvir do Prof. Severino Ngoenha que a emancipação africana começou na diáspora com intelectuais e artistas afrodescendentes, mas sempre tendo a África como consequência dessa luta pela libertação colonial, pensei que, dentro de minhas limitações de leituras e estudos sobre o pensamento africano, não poderia deixar de assumir meu lugar de fala nessa história.

Como pesquisador e sujeito afrodescendente, sinto-me reponsável por dar continuidade e desdobrar o legado que essa geração heróica do Harlem Renaissance, do Pan-Africanismo e de outros movimentos negros nos deixaram.

Os professores Boubacar e Severino, africanos de diferentes formações, regiões e tradições, mas igualmente experientes na reversão, desconstrução e reinscrição de valores outrora assentados sobre a África, nos conclamou para acompanhá-los nessa passagem de bastão às gerações futuras do que produzirmos hoje.

Esse chamado me fez lembrar o que o Prof. Acácio disse enfaticamente: "Não se estuda África sozinho". É certo que temos nossos interesses particulares de pesquisa, mas o diálogo e o convívio com outros pesquisadores interessados em África nos possibilitam estar sempre aprendendo sobre as Áfricas que não conhecemos, sejam as de lá, entre Dakar e Maputo, entre Cabo e Cairo; sejam as de cá, entre Havana e Salvador, entre New Orleans e Porto Príncipe.

Um comentário:

Erotides disse...

Marielson!
Parabens pela iniciativa de compartilhar com os colegas parte do seu trabalho. Hoje, tirei o dia para leituras e iniciar os trabalhos, pois tenho um artigo do mestrado tbem. Assim logo que liguei o comp e recebi seu e-mail fiquei emocionada e dei inicio. Agora vou aproveitar esse recesso de São João, e logo que tenha algo escrito envio para vc dar uma olhada, melhor vou compartilhar tbem. Um grande abraço e boas festas. gostei demais do texto.
Obrigada
Erotides