terça-feira, 1 de maio de 2012

Raulzito, o Cara








Foi um prazer assistir com José Raimundo, o Pinguim, ao documentário "Raul Seixas: o início, o fim e meio", de Walter Carvalho, por um motivo muito especial.

Como estou envolvido na co-autoria do livro de Pinguim, um dos mais antigos profissionais da televisão baiana, achei que seria positivo reavivar a sua memória de dois momentos de contato com Raul Seixas.

O primeiro, quando ambos foram colegas de turma do Colégio Maristas, em Salvador, na década de 60, sendo, portanto, contemporâneos de um período de efervescência musical que tinha o rock and roll de Elvis Presley como a sensação da juventude de classe média.

O segundo, quando ambos se reencontraram no final dos anos 70, no Rio de Janeiro, e Raul, numa fase de pop star e com influência na mídia da época indicou Pinguim à Tv Globo para trabalhar na produção da emissora.

Esses dois episódios estão narrados no livro "Minha Vida é Flash" de José Raimundo, que completa em 2012, 35 anos de carreira na televisão como produtor e diretor, com experiência na Tv Itapoan e Tv Aratu.

Além dessa satisfação de assistir ao filme com Pinguim, uma outra diz respeito ao próprio documentário, especialmente sobre Raul Seixas, de quem, embora conhecesse os seus maiores sucessos, não conhecia bem sua trajetória artística e pessoal.

Walter Carvalho apresenta ao espectador, fã ou interessado pela vida e obra de Raulzito, um cine-retrato equilibrado e abrangente. Tentando contar a história numa linha de tempo sequencial, mas sem perder o próprio mote transgressor do título, inspirado em um verso de "Gita", o diretor nos fisga pela curiosidade de conhecer os fios que compõem a filigrana da personagem/personalidade do cantor e compositor baiano.

Com imagens de arquivos pessoais e de televisão, além de depoimentos de amigos, familiares, jornalistas, músicos, ex-esposas e companheiras, o filme não traz muitas revelações, mas reacende algumas polêmicas do convívio entre esses entrevistados e Raul, como foi com um de seus parceiros mais conhecidos, Paulo Coelho.

Aliás, uma das cenas mais emblemáticas desta relação tempestuosa e criativa, é simbolizada por uma mosca que incomodava o escritor durante a entrevista em sua residência em Genebra. Enquanto falava sobre certo clima de disputa e inveja entre os dois, o inseto sobrevoava a sala branca e asséptica, entrando no enquadramento e posando no rosto e braço de Paulo. "Engraçado, em Genebra não tem mosca. É o Raul, mas eu não vou matar". Mas logo após, dá um tapa sorrateiro na mosca. E ela voou, persistente.

Outra polêmica é a parceria, dessa vez no palco, de Raul com Marcelo Nova, de Camisa de Vênus. Quando o cantor estava numa fase quase final de carreira, devido ao agravamento da doença no fígado, Marcelo o convidou para uma turnê da banda como participação especial, mas o retorno de Raul foi um sucesso, dando à banda uma visibilidade e profissionalizando-a.

Familiares e amigos dividem as opiniões sobre as verdadeiras intenções de Marcelo Nova. Ele se defende, justificando que, como fã e discípulo de Raul, era uma retribuição pelo que o cantor representava para sua formação musical. Segundo ele, jamais usaria Raul para ganhar fama.

A trilha sonora é Raul, Raul e Raul, mesmo quando rola um incidental de Elvis Presley é Raul, cover do rocker norte-americano, que vemos. Minha memória mais antiga de Raul é da sua interpretação de "O carimbador maluco" ("Plunct, plact, zuum"), em um especial infantil da Rede Globo em 1983. Aparentemente ingênua, a letra faz uma crítica à ditadura, já que o carimbador era a figura mais emblemática à censura no regime, autorizando ou não a divulgação dos produtos culturais e artísticos. Só recentemente, numa leitura mais refinada, percebi o dedo crítico de Raulzito nessa canção.


O filme tem seguido uma trajetória de  sucesso em todos as salas onde é exibido. E vale a pena mesmo assistir e entender o porquê, sem é claro tomá-lo como uma cinebiografia definitiva de Raul, o quanto este cara foi seminal para o rock nacional, e mais, como sua performance musical ainda contagia as novas gerações de roqueiros ou mesmo de novos ouvintes e sonhadores de uma sociedade alternativa.


Um comentário:

Editania Santana disse...

Muito necessário lembrarmos um ícone de tamanha importancia para a música brasileira. Há necessidade de que os jovens o conheçam e saibam como é fazer música consciente e com muita mensagem para uma geração como a nossa.Conheço Pinguim de lá da Aratu, Federação e sei da capacidade profcissional dele. Um grande beijo.