sábado, 16 de junho de 2007

Festa no Reino de Ariano


Hoje, o paraibano (e paraibense, porque ele nasceu na antiga Cidade da Parahyba, atual João Pessoa) Ariano Suassuna faz 80 anos.

Um tento para ele, que ainda está lúcido e em atividade, e um orgulho para nós todos, leitores de suas obras. Ariano é um pop star da literatura brasileira contemporânea. Não precisa ter milhões de livros publicados em inúmeras línguas para ser reconhecido, como muitos se jactam por aí...

Basta apenas ter erudição sincera, envolvente, participativa e festiva, como tem Ariano... Isto está em seus livros e na sua fala, quando faz suas aulas públicas em eventos literários pelo País.

Eu assisti a uma dessas aulas de literatura brasileira em João Pessoa, no Teatro Santa Rosa, quando, em 2002, fazia mestrado na UFPB e morava na cidade. Foram duas horas de passeio por nossas letras nacionais, de Gregório a Euclides da Cunha (este, confessadamente, seu escritor preferido).

Nesta aula, aprendi com Suassuna que, não adianta incentivar a leitura, estimular os outros a gostarem de literatura, se o professor não lê, não conhece aquilo que leciona. (Lembro-me de um verso de Mario Quintana: "Os verdadeiros analfabetos são aqueles que sabem ler e não lêem")

É preciso ter paixão pelos livros. E Ariano dá lições de como ser um apaixonado pela literatura e, por extensão, por sua literatura. No Reino de Ariano, ele é quem rege o tempo e o espaço da ficção, uma realidade possível, que nos encanta pelo engenho e arte com que reinventa para nós.

A microssérie "A Pedra do Reino" (http://quadrante.globo.com/), ora em exibição na Globo, é uma primorosa adaptação da obra monumental de Ariano. Pense no trabalho em adaptar mais de 700 páginas de romance para apenas cinco capítulos de 40 minutos cada!

Li algumas críticas de que Luiz Fernando Carvalho estragou a festa dos 80 anos de Ariano com a microssérie. A linguagem realista-fantástica, com a qual o diretor se afirma na televisão (vide a outra microssérie "Hoje é dia de Maria"), quando se coaduna com a mesma linguagem já presente na obra, a partir da qual ele constrói sua narrativa, como é o caso de Ariano, o resultado pode causar estranhamento, mais do ponto de vista da rejeição, do que da atração.

Sem dúvida, o elenco, o figurino, o cenário, a interpretação, a música, a fotografia... Tudo nesta microssérie está belíssimo, mas penso que se a programação de dias exibidos fosse mais expandida, pelo menos por mais uma semana, a história poderia ser melhor apreendida, sem a "pressa" com que aparentemente se mostra nas falas e nas cenas.

Às vezes, é quase impossível entender alguns diálogos, porque envolvem um sem-número de personagens envolvidos, assim como referências a episódios não mostrados que, para um público de televisão não-leitor de literatura, não-experiente nas artimanhas e idiossincrasias da associação e hibridez das linguagens verbais e visuais, pode ser enfadonho e "sem sentido".

Isso não quer dizer que o público não deve ter contato com outras formas de linguagem televisiva, pois a teledramaturgia brasileira tem seus cacoetes e vícios narrativos que estão exaurindo nossa paciência por ver algo novo.

Toda telenovela apresenta uma estrutura dramática que já é sabida por todos. Se começa diferente, como algo inédito, termina da mesma maneira como as outras. Tudo é previsível. É uma fórmula clássica que, quando rasurada, é possível que as televisões percam audiência e, por conseguinte, dinheiro.

As mini e microsséries são obras fechadas, portanto, têm uma estrutura que difere das telenovelas quanto ao número de capítulos e, geralmente, gravadas antecipadamente e exibidas em datas específicas. As telenovelas podem ser encurtadas ou prolongadas ao sabor dos índices do Ibope.

Sou favorável a exploração de novas formas de narrativas, mesmo que preservando a linha clássica, mas isso não quer dizer que deva ser indecifrável, quase impossível de compreensão. Este público não acostumado a inovações fílmicas na televisão tem que se habituar aos poucos.

Não adianta uma produção espetacular, se o conteúdo da mensagem não atravessa a tela e preenche, complementa, informa ou corresponde às expectativas de quem assiste. Como a maioria dos televisores atuais tem controle remoto, com um dedinho pressionado, muda-se rapidamente de canal.

Em termos de Ariano Suassuna na televisão, "O Auto da Compadecida" e "Uma mulher vestida de Sol" foram duas adaptações elogiadas, o que não exclui, obviamente, "A Pedra do Reino", mas o que faltou foi a medida certa do texto literário no texto visual.

É uma obra autoral de Luiz Fernando Carvalho que, se for readaptada para o cinema, talvez encontre seu espaço ideal de luminescência mágica.

Mas assistamos até o final, que traz desfecho inédito escrito pelo próprio Ariano Suassuna, já que a obra original faz parte de uma trilogia que ainda não foi concluída. Se a intenção foi a de chamar o público para ler o romance, penso que não será fácil. Deixemos que o mestre o faça por si mesmo, ele entende das coisas.

Parabéns, Ariano, por seus 80 arianos.

2 comentários:

Unknown disse...

Concordo com vc sobre essa questão de ir com calma pra não asustar o público (eles estão c/ o controle remosto na mão!!). Tb tive dificuldade de escutar algumas falas (várias), e na verdade nem assisti à serie toda. Não exatamente pq a linguagem da adaptação pra TV me afugentou, mas tb não consegiu me cativar, e outros interesses surgiram e qdo fui ver..'Ih! já terminou episódio de hoje!!'.
Ao menos, me interessei em ler a obra.

Juniupaulo disse...

Concordo com vc sobre essa questão de ir com calma pra não asustar o público (eles estão c/ o controle remosto na mão!!). Tb tive dificuldade de escutar algumas falas (várias), e na verdade nem assisti à serie toda. Não exatamente pq a linguagem da adaptação pra TV me afugentou, mas tb não consegiu me cativar, e outros interesses surgiram e qdo fui ver..'Ih! já terminou episódio de hoje!!'.
Ao menos, me interessei em ler a obra.

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